NR-1 Atualizada: Saúde Mental no Trabalho, Afastamentos e Medidas Preventivas

A NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1), atualizada pela Portaria Portaria MTE nº 1.419, de 27 de agosto de 2024, define as disposições gerais sobre o gerenciamento de riscos ocupacionais no ambiente de trabalho. Ela estabelece diretrizes para que empresas implementem medidas de saúde e segurança, incluindo o cuidado com a saúde mental e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

Com o aumento expressivo de afastamentos previdenciários relacionados a transtornos mentais, as empresas precisam adotar medidas eficazes não apenas para evitar perdas financeiras, mas também para proteger e preservar a saúde mental dos trabalhadores, promovendo um ambiente de trabalho equilibrado.

Segundo a NR-1, os empregadores devem implementar programas de gerenciamento de riscos ocupacionais (GRO), além de elaborar o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e realizar o gerenciamento de riscos psicossociais, que incluem fatores ligados ao estresse, sobrecarga de trabalho e más condições organizacionais.

Principais ações previstas na NR-1

  • Prevenção de Doenças Ocupacionais: Identificar, avaliar e controlar riscos que possam impactar a integridade física e mental dos trabalhadores.
  • Adaptação das Condições de Trabalho: Planejar ergonomia, carga horária adequada, pausas e processos que promovam o bem-estar.
  • Treinamentos Obrigatórios: Capacitar gestores e trabalhadores sobre riscos psicossociais, saúde mental e promoção de equilíbrio no trabalho.
  • Acompanhamento de Indicadores de Saúde Ocupacional: Implantar monitoramento integral das condições de saúde física e mental do trabalhador.

Com a intensificação do trabalho remoto, hiper conexão e exigências mais altas de produtividade, o impacto na saúde mental dos trabalhadores aumentou drasticamente nos últimos anos. O equilíbrio entre vida profissional e pessoal tornou-se um tópico central, já que o desequilíbrio tende a gerar:

1. Burnout (Síndrome de Esgotamento Profissional):

Reconhecida pela OMS como doença ocupacional, o burnout aparece como uma das principais causas de afastamento por problemas de saúde mental.

2. Transtornos Mais Comuns:

  • Estresse crônico
  • Ansiedade
  • Depressão
  • Alcoolismo e outras dependências.

3. Impacto no Ambiente de Trabalho:

A diminuição da produtividade, absenteísmo e presenteísmo (quando o trabalhador está fisicamente presente, mas mentalmente indisponível) são reflexos diretos do descuido com a saúde mental no trabalho.

Os dados mais recentes do Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho e da Secretaria de Previdência e Trabalho revelam números preocupantes:

Em 2023, os transtornos mentais e comportamentais representaram 7 das 10 principais causas de afastamento pelo INSS.

Os diagnósticos mais prevalentes foram: 

  • Episódios depressivos;
  • Ansiedade generalizada;
  • Reações ao estresse grave;
  • Burnout.

Os afastamentos provocam impactos profundos tanto sobre os trabalhadores como sobre os empregadores:

Para o Empregador:

  • Redução da Produtividade: A ausência de um colaborador-chave sobrecarrega equipes e dificulta o cumprimento de prazos.
  • Aumento de Custos: Substituição, treinamentos e recrutamento são custos adicionais resultantes dos afastamentos.
  • Pressão Legal: Caso as condições de trabalho sejam consideradas inadequadas, as empresas podem ser responsabilizadas legalmente por negligência.

Para o Trabalhador:

  • Perda de Conexão com o Trabalho: Longos períodos de afastamento dificultam a reinserção no ambiente profissional.
  • Prejuízos Financeiros: Redução salarial durante o afastamento, especialmente em casos de auxílio-doença.
  • Impacto na Saúde Global: Problemas de saúde física e mental frequentemente se agravam quando as condições de trabalho não são ajustadas.

A prevenção é a melhor estratégia para reduzir o impacto das doenças mentais no ambiente corporativo, melhorar índices de produtividade e diminuir custos com afastamentos. Veja algumas ações práticas respaldadas pela NR-1:

  1. Avaliação de Riscos Psicossociais:

Implante programas de análise de clima organizacional, incluindo entrevistas e pesquisas para identificar fatores de risco emocional, como carga excessiva de trabalho, bullying e horas extras contínuas.

  1. Criação de Grupos de Apoio: 

Estabeleça canais de escuta, como grupos de apoio psicológico ou consultas periódicas com psicólogos disponíveis para a equipe.

  1. Programas de Bem-Estar:

Incentive atividades de relaxamento, atividades físicas e hobbies. Promova semanas temáticas sobre saúde, com palestras e treinamentos de autogestão emocional.

  1. Monitoramento Contínuo:

Use indicadores de afastamentos como um termômetro do bem-estar organizacional e avalie constantemente as condições psicológicas dos trabalhadores.

Empresas que priorizam saúde mental, diversidade e inclusão terão menores taxas de turnover e maior satisfação entre seus colaboradores. Logo onde há bem estar, provavelmente terá a melhor entrega.

Os governos e órgãos fiscalizadores esperam uma redução nos afastamentos previdenciários ligados a transtornos mentais nos próximos anos após a adoção de medidas nas empresas e assim uma economia em benefícios pagos e uma maior massa de mão de obra produtiva e não adoecida.

Os transtornos mentais têm ocupado um lugar crescente entre as causas de afastamentos no Brasil e no mundo, exigindo que as empresas repensem urgentemente suas práticas. A atualização da NR-1 reforça o papel do empregador na promoção de ambientes seguros e saudáveis, não apenas com foco na saúde física, mas também na saúde mental.

Investir no bem-estar dos trabalhadores não é apenas uma questão ética, mas uma estratégia essencial para o sucesso organizacional a médio e longo prazo, garantindo um ambiente de trabalho produtivo e equilibrado.